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sábado, 26 de fevereiro de 2011

THE BIG FIGHTER

Pensem na seguinte cena, representativa de muitas famílias nas quais uma das pessoas tem TDAH.

- Mãe, eu já lhe disse que vou fazer o dever de casa até sábado à noite, e eu vou fazer até sábado à noite. Agora quer me deixar em paz? O indivíduo  chuta a cesta de lixo e sai desembestado da sala para a cozinha.
A mãe se levanta da cadeira atrás dele:
- Não, eu não vou deixar vocêm em paz, entendeu? O que foi que você fez para merecer minha confiança?  Estamos no fim de um período escolar e você está na metado do segundo grau e pendurado em duas matérias. Tudo o que faz são promessas e nunca se esforça. Estou cansada disso. Se o que deseja é arruinar a sua vida...
- Mãe, acalme-se eu não estou arruinando a minha vida, só tive alguns períodos ruins, mais nada.
- Alguns períodos ruins? Você só teve períodos ruins. E não é com isso que eu estou preocupada e sim com a sua falta de esforço. Você simplesmente não persiste. Desde que possa sair de casa, não se importa com o que vai acontecer amanhã, e é por isso que não vai sair de casa esse final de semana, nem por um segundo. Nem por meio segundo - acresscenta, e estala os dedos próximo à parte de trás da cabeça dele.
O filho vira-se para a mãe:
- Sabe que você é uma puta? Não passa de uma puta de merda.
Nesse ponto a mãe perde a cabeça e o esbofeteia. Depois lhe daá um murro no ombro, perde o equilibrio e cai para a frente. Ao cair no chão, começa a chorar. O filho tenta ajudá-la, mas ela o empurra, e então o pai entra na cozinha.
- Saia dessa casa! vocifera ele.
- Eu não queria machucá-la!!!
- Saia agora, exige o pai.
- Está certo - diz Tommy, e sai pela porta da cozinha, batendo-a com força.

No dia seguinte, sábado, a família está novamente reunida.
Pai e mãe sentam para conversar com o filho que fora trazido pela polícia após ser encontrado na rodoviária as 3 da madruga.
Os tres se olham, anos de recriminações concentrados nesse momento.
- Temos que fazer alguma coisa - começa o pai.
- Primeiro quero um pedido de desculpas - disse a mãe.
- Desculpa, eu não queria derrubar você e nem queria lhe chamar do que a chamei.
- Então porque chamou?
- Não sei, eu estava enlouquecido, simplesmente saiu da minha boca.
- Esse é o problema, você não tem a intenção de fazer as coisas que faz e não faz as coisas que diz ter a intenção de fazer.
Paremos a cena aqui.

o que a mãe acaba de dizer fornece uma descrição bem precisa do TDAH. Se ela pudesse parar nesse ponto da conversa e dizer: "Aha! Posso perceber agora que o que você não tem é um caso incurável de teimosia, e sim o distúrbio do déficit de atenção" - aí sim o resultado seria favorável. Mas o que em geral acontece é que tais argumentos se ramificam em conflagrações incluindo boa parte da família no processo.

O que em geral se desenvolve em fámílias nas quais um dos filhos (ou adulto) tem TDAH é o que chamamos de Grande Luta. A criança nãoc consegue habitualmente cumprir suas obrigações, os afazeres domésticos, os deveres escolares, e respeitar os horários da família, manter o quarto arrumado, participar de forma cooperativa da vida familiar. Isso conduz à tentativa crônica, por parte dos pais, de estabelecer limites, com a adoção de penas cada vez mais rigorosas e limitações cadavez mais inflexíveis.
Com isso a criança se torna progressivamente mais desafiadora, menos cooperativa, mais alienada, o que  leva os pais a ficarem exasperados com o que parece um problema de atitude, sob controle voluntário, e não um problema neurológio de TDAH

Quanto mais insuportável para os pais é o comportamenteo do filho, mais eles se tornam intolerantes com as desculpas ou explicações que a criança possa oferecer, menos propensos a acreditar em promessas de melhora e sempre mais tendentes a atitudes rigorosas, num esforço inútil para controlar o comportamento da criança. Aos poucos, o papel da criança na família se cristaliza como o de "criança problema", e ela é eleita o bode expiatório para todos os conflitos e problemas da família.

Aos poucos ela vai sendo envolvida por uma onda de desdém e escárnio que sufoca o desenvolvimento da sua confiança e auto-estima.

A grande luta pode durar anos.  e a família inteira sofre porque a Grande Luta raramente alcança qualquer fim construitivo

Até que se faça um diagnóstico e ambas as partes possam compreender o que acontece, haverá pouco progresso efetivo. Infelizmente, os sintomas que são a marca registrada do TDAH - distração, impulsividade e muita atividade - são tão comumente associados à infância que a possibilidade de uma causa neurológica subjacente em geral não é levada em consideração. Essa criança será tratada como um adolescente rebelde e ambos os lados pagam o preço enquanto a incompreensão se fortalece e a GRANDE LUTA segue seu livre curso.

Parte do livro: Tendência a Distração   -  Hallowell, E

ADULTANDO-SE DIFERENTE

Crescer sem saber! Ter a mente em confusão a cada segundo vira perturbação crônica.
É como estar em movimento contínuo quando o que queremos é estar parado, olhando, observando, concentrado.
O que é isso?
Ter a sensação de baixo rendimento, não atingir metas estabelecidas. Ter dificuldades em se organizar, procrastinar  tarefas.
O que é isso?
Ter projetos iniciados e não terminados. Dizer o que vem a cabeça sem pensar, sem medir as conseqüências do ato. Não tolerar o tédio e distrair-se facilmente.
O que é isso?
Ter a mente insistindo em ficar desperta, em ficar alerta, em nos cansar, desobedecendo nosso comando, violentando nossa vontade.
O que é isso?
Sabemo-nos inteligentes, sagazes, criativos. Conseguimos fazer várias coisas ao mesmo tempo.
Então o que há de errado com a gente?
A dispersão, o devaneio são mais algumas características. Só conseguimos focar a atenção naquilo que realmente nos interessa, caso contrário vamos a busca de algo novo. E essa busca é incessante, cansativa – tudo tem início, nada tem final!
O que há de errado com a gente?
Pensa que entendemos ou ao menos aceitamos essa condição? Não, infelizmente.
As acusações de que somos preguiçosos, incompetentes, vagabundos, sonhadores, incoerentes, estressados, controladores, autoritários, invasores, manipuladores, pessoas sem um grande futuro nos atingem desde criança e vamos adultando desacreditados por nós mesmos.
São conceitos que sepultam nossa auto-estima enquanto crescemos.
Como fazer para parar?
Como fazer para não devanear tanto?
Como perseverar?
Porque não conseguimos o que parece simples para os outros?
Quantas  vezes essas perguntas se fizeram ou fazem presentes em nós!!!
O sentimento é de marginalidade, pessoas estranhas.
Sem se fazer entender abriga-se no interior, que mais confuso ainda formula como proteção comportamentos agressivos ao exterior, é assim que sobrevivemos com essa dor idiopática.
Somos estigmatizados pelas pessoas a nossa volta, por aqueles que nos amam e a quem amamos... Acredito por não saberem também lidar com esse caos.
E como os decepcionamos!
Crescemos assim...
Hoje pesquisas científicas avançaram – a neurociência nominou e explicou o que nos afligia.
Saber que é apenas um jeito diferente dos circuitos neurais se ligarem, ah isso foi a LUZ\! Sabemo-nos  TDAH adultos e não adultos defeituosos.
É apenas uma condição diferente dos de ser, assim como os míopes precisamos de óculos para focar melhor.
Como os diabéticos e os hipertensos precisam de medicamentos, os TDAH também precisam para se organizarem. E é isso que faz os tratamentos medicamentosos e a psicoterapia.
Não é algo contagioso ou terminal.
É verdade que se não entendido e aceito desagrega famílias, amizades, causando grande estrago na vida social.
Descobrir e aceitar clareia e muito a vida. Tudo é novo, descobre-se que não se é o que
ouviu a vida inteira. Percebe-se a existência de diferentes potenciais e passa-se a acreditar em si mesmo de uma forma tão intensa que ninguém mais nos segura. A auto-sabotagem acaba. Mas, ACEITAR É PRECISO.
Entendido e aceito passa-se para o treinamento de novos comportamentos com a intenção de deixar de lado hábitos deletérios enraizados, desenvolvidos durante uma vida inteira,  na tentativa de se proteger de nós mesmos e do mundo.
Os que, mesmo cansados, não desistiram de nós são grandes parceiros para nos lembrar o que esquecermos e para nos fazermos presentes quando devaneamos.
Temos que acreditar no verdadeiro amor delas, porque humanamente tendo motivos justificáveis não se vão de nós, não nos abandonam e acreditam, às vezes mais até do que nós, nas nossas capacidades e torcem por nós bem de pertinho, sofrendo todos os impropérios que aparecerem.
Então vamos desmontar os muros, deixar de tolices e bobagens. Deixar de achar que essa condição justifica erros. Somos totalmente responsáveis por ir em frente sem nos camuflarmos em desculpas.
Pais, escolas, treinadores, amigos, família é urgente aprender mais sobre e não sentir vergonha se uma de suas crianças se enquadrarem nesse diagnóstico.
Diagnosticados precocemente, irão adultarem sabendo-se perfeitos e acreditando que são capazes de serem felizes assim como graves erros e sofrimentos evitados.



 Dedico à meu filho, companheiro, amigo dessa estrada.

Hilzia Elane Bacellar

                       Rio, 26 de fevereiro de 2011

TDAH

É um transtorno neurobiológico - 80% de causa genética reconhecido pela Organização Mundial de Saúde e que ainda hoje é visto com grande preconceito por pessoas que não acreditam ou ignoram o sofrimento que uma deficiência química do organismo pode causar a tantas mentes brilhantes.

Dedico esse blog às pessoas interessadas por esse assunto no intuito de entender e aceitar limitações específicas sejam de seus filhos, amigos, colegas de trabalho, pai, mãe, amigos e a si próprio e melhorar substancialmente as relações entre os seres humanos.