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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

domingo, 2 de dezembro de 2012

AUTISMO


AUTISMO 
Autoria: Dra. Mayra Helena Bonifacio Gaiato e Dr. Leandro Thadeu Garcia Reveles




O que é? 


O autismo é uma doença e caracteriza-se por: 

 Dificuldade de interação social 
 Dificuldade em comunicação verbal e não verbal (por ex., contato visual direto, expressão facial, posturas e gestos corporais). 
 Alterações do comportamento (movimentos esteriotipados, repetivos, sem função). 

Os sintomas variam muito entre seus portadores e, por causa dessa variedade utiliza-se o termo Transtorno do Espectro Autista ou Transtorno Global do Desenvolvimento para caracterizar uma criança com alguns desses sintomas. 

O transtorno acompanha comumente outras manifestações inespecíficas, por exemplo, fobias, perturbações de sono ou da alimentação, crises de birra ou agressividade. 


Qual a população atingida? 

Sua epidemiologia corresponde a aproximadamente 1 a cada 150 crianças, numa proporção de 4 homens para 1 mulher. Observa-se assim uma predominância do sexo masculine. 

A idade média para a detecção do quadro é ao redor dos 3 anos, embora alguns sinais já possam ser percebidos ao redor dos 12 meses de idade. 


Sinais de alerta para autismo 

 A criança prefere brincar sozinha, não quer ficar com o grupo de colegas da escola. 
 Em casa gosta de ficar nos cantos brincando, falando e ou rindo sozinha. 
 Tem pouco ou nenhum contato visual, parecendo ter deficiência auditiva quando chamada. 
 Usa os objetos sem a função que eles possuem, por exemplo, vira o carrinho e fica girando a roda ao invés de brincar de empurra-lo no chão. 
 Tem fixação por alguns objetos. Muitas vezes objetos que têm movimento repetitivo, como ventilador, máquina de lavar. 
 Dificuldade de aprendizagem com métodos tradicionais de ensino. 
 Agitação extrema ou inatividade. 
 Insistência em repetições, por exemplo, gosta de assistir a mesma cena de filme várias vezes. Resiste à mudança de rotina. 
 Dificuldade em avaliar situações que envolvem perigo. 
 Dificuldade em entender dicas sociais, como entender figures de linguagem. 
 Pode ter resistência a aceitar contato físico, como toque, abraços e beijos. 
 Pode apresentar atraso na fala e ecolalia (repete palavras ou frases). 
 Dificuldade em expressar necessidades. Usa as pessoas como ferramentas quando não conseguem pegar ou fazer algo sozinhas. 
 Acessos de raiva - demonstra extrema aflição sem razão aparente 
 Irregular habilidade motora - pode não querer chutar uma bola, mas pode arrumar blocos e legos como ninguém. 

OBS.: É relevante salientar que nem todos os indivíduos com autismo apresentam todos estes sintomas, porém a maioria dos sintomas está presente nos primeiros anos de vida da criança. Estes variam de leve a grave e em intensidade de sintoma para sintoma. 


Tratamento 

Hoje, o tratamento do autismo não se prende a uma única terapêutica. Existem várias técnicas específicas para habilitar uma crianca a realizar atividades de vida diária, interagir com outras crianças e ter uma vida mais próxima do normal. 

Para isso é necessário uso de medicamentos para aliviar os sintomas da criança com autismo para que outras abordagens, como a terapia comportamental, a reabilitação neuropsicológicae a educação inclusiva possam ser adotadas e tenham resultados eficazes.



FIBROMIALGIA


FIBROMIALGIA 
Autoria: Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva




O que é Fibromialgia? 

A Fibromialgia é uma síndrome crônica dolorosa do tecido conjuntivo. A pessoa sente dores difusas em várias áreas como pescoço, ombros, joelhos, costas, região lombar e quadris, que se espalham por todo o corpo. Em 70% dos casos a pessoa apresenta sono de má qualidade. 


Do que a pessoa se queixa? 

A pessoa se queixa de cansaço crônico durante todo o dia, de inchaço nas mãos e nos pés, formigamento nas mãos, má tolerância ao esforço físico ou exercícios, enxaquecas, dores menstruais, endurecimentos das juntas (sobretudo pela manhã), espasmos musculares, distúrbios intestinais, perda de memória, retenção hídrica, depressão e ansiedade. 


Qual a população atingida? 

Calcula-se que 5% da população americana sofre de fibromialgia. O início da doença é variável mas a média de idade do aparecimento está entre 25 e 55 anos e atinge sobretudo mulheres, numa porcentagem de 80% a 90%, mas pode também ocorrer com idosos. No caso das crianças, as dores podem ocorrer entre 3 e 12 anos e devem ser diferenciadas daquelas consideradas como dores de crescimento. 


Como é feito o diagnóstico? 

Os sintomas da fibromialgia podem estar associados a outras enfermidades como lúpus eritematoso, osteoartrose, artrite reumatóide, hérnia de disco, entre outras, o que torna difícil o diagnóstico. Além disso, os exames e radiografias apresentam-se normais. O médico baseia sua investigação na história do paciente de dores difusas e distúrbios do sono por mais de três meses. Pressiona 18 pontos específicos do corpo e ao identificar 11 pontos dolorosos poderá considerar o diagnóstico de fibromialgia. 


Por que ocorre? 

A causa da fibromialgia ainda é desconhecida, podendo surgir súbita ou lentamente. 

Pesquisas têm demonstrado que os sintomas da fibromialgia estão relacionados a um baixo nível de serotonina, substância que protege os seres humanos da dor e cujo desequilíbrio neuroquímico está associado à depressão. A alteração do nível de serotonina faz com que os impulsos que chegam e saem do cérebro sejam identificados erroneamente como dor. 


Como começa? 

Os sintomas podem surgir em conjunto com depressão ou após uma infecção bacteriana ou viral; um trauma como um acidente de automóvel; uma situação de estresse psicológico como separação, divórcio ou problemas com filhos ou em conseqüência de uma enfermidade que limita a qualidade de vida da pessoa. Embora estes agentes não possam ser considerados como a causa da enfermidade, aparecem mais freqüentemente em pessoas com dificuldades em regular a sua resposta a determinados estímulos. 

Observa-se também distúrbios na microcirculação e o ciclo de energia nas fibras musculares está comprometido. 

A doença pode ser desencadeada tanto por fatores externos como clima úmido, falta de exercícios, postura incorreta, quanto por fatores internos como depressão e ansiedade. Estas últimas, inclusive,  estão presentes em pacientes com fibromialgia muito mais do que em outras enfermidades crônicas. Estudos médicos têm procurado analisar se há lesões nos músculos, alteração no sistema imunológico, problemas psicológicos e problemas hormonais. 


Tratamento 

Atualmente ainda não existe um tratamento capaz de curar definitivamente a Fibromialgia, mas pode-se obter uma grande melhora do sofrimento do paciente através de um tratamento farmacológico associado a outros instrumentos como 

Informações aos pacientes: Quando o médico descobre o problema, reduz a ansiedade do paciente, mostrando-lhe que a fibromialgia não causa câncer, não provoca lesões, não deforma nem destrói as articulações. 

Programa Educacional: O médico educa o paciente para prevenir e lidar com possíveis crises. Evitar levantar pesos, adotar posturas adequadas, buscar assentos ideais em casa e no trabalho, usar calçados apropriados ou adaptados e evitar a obesidade porque sobrecarrega os músculos e tendões e dificulta a melhora. 

Tratamento medicamentoso:É indicado o uso de antidepressivos que melhoram a concentração de serotonina, ansiolíticos que melhoram a qualidade do sono e ajudam no relaxamento muscular. Os analgésicos são importantes mas não devem ser a única forma de tratamento. 


Tratamentos psicológicos: É fundamental para o alívio da depressão, ansiedade ou estresse, que podem preceder ou mesmo acompanhar a fibromialgia. Utilizam-se técnicas de relaxamento e cognitivo-comportamentais, que permitem ao paciente adotar uma mudança de comportamento, levando uma vida mais relaxada e livre de preocupações. 

Outros Tratamentos: Fisioterapia, exercícios físicos, hidroginástica, massagens, infiltrações, injeções com anestésicos locais, acupuntura e meditação.

DEPRESSÃO



DEPRESSÃO 
Autoria: Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva




O que é Depressão? 

A depressão não é apenas uma sensação de tristeza, de fraqueza ou de "baixo astral". É muito mais do que se sentir triste ou ficar de luto após uma perda, por exemplo.

A depressão é uma doença de corpo como um todo (tanto como hipertensão arterial, a diabetes ou as doenças cardíacas) que afeta o humor, os pensamentos, a saúde e o comportamento.

Estima-se que 10% da população mundial sofram de uma doença depressiva em algum período de sua vida. 


O quadro clínico da depressão pode apresentar os seguintes sintomas: 

 Tristeza persistente, ansiedade ou sensação de vazio;
 Sentimentos de culpa, inutilidade e desamparo;
 Insônia terminal (ocorre o despertar 3 a 4 horas da manhã) ou excesso de sono;
 Perda de apetite e do peso, ou aumento do apetite e ganho de peso;
 Fadiga e sensação de desânimo;
 Irritabilidade e inquietação;
 Dificuldade para concentrar-se e recordar;
 Dificuldades em tomar decisões;
 Sentimentos de desesperança e pessimismo;
 Ideias ou tentativas de suicídio;
 Dores crônicas que não correspondem aos tratamentos convencionais;
 Perda de interesses por atividades que anteriormente despertavam prazer, incluindo-se atividades profissionais, sexuais ou mesmo lazer.


Por que a Depressão ocorre? 

A depressão é consequência de um desequilíbrio de substâncias cerebrais chamadas neurotransmissores, que são fundamentais na regulação do humor. 

Em algumas famílias a depressão costuma ocorrer de geração em geração. Entretanto, pode, por vezes, manifestar-se em indivíduos que não possuem história de depressão familiar. Herdada ou não, a depressão maior está associada à redução ou ao excesso de certas substâncias neuroquímicas (neurotransmissores). 

A personalidade (constituição psicológica) também desempenha papel na vulnerabilidade à depressão. Pessoas com baixa autoestima que se vêem sistematicamente com pessimismo, ou que se deixam facilmente abater pelo estresse, são mais predispostas à depressão. Fatores externos (ambientais) como dificuldades financeiras, doença crônica, ou qualquer alteração indesejada na vida também podem desencadear um episódio depressivo. 

Assim, conclui-se que, com frequência, a combinação de fatores genéticos, psicológicos e ambientais está presente no aparecimento da doença depressiva. 


Existe tratamento para Depressão? 

Mais de 85% das pessoas que sofrem de depressão podem ser ajudadas através de tratamentos adequados. Quando bem aplicados, eles reduzem a dor, o sofrimento e eliminam os sintomas causados pela depressão, permitindo que o paciente volte à vida normal. A precocidade do tratamento é fundamental para o sucesso terapêutico. 

Existem vários tratamentos disponíveis para a depressão. Os mais adequados deles deverão dar conta de todos os fatores envolvidos no desenvolvimento do problema. Assim, o primeiro passo de qualquer tratamento será o restabelecimento do equilíbrio bioquímico dos neurotransmissores cerebrais envolvidos na regulação do humor. Para este aspecto faz-se necessário o uso de medicamentos que possam fazer o restabelecimento deste equilíbrio. 

O segundo e talvez o mais importante passo no sucesso do tratamento a longo prazo, trata-se de uma abordagem psicoterápica que conscientize o paciente sobre a necessidade de reestruturar sua maneira de viver e principalmente de lidar com os problemas de maneira menos desgastantes. 

O terceiro passo visa introduzir na vida do paciente hábitos e/ou técnicas que fazem o equilíbrio físico e mental tais como a ioga, meditação, prática de exercícios físicos, técnicas de relaxamento e alimentação mais saudável, rica em substâncias que ajudem na manutenção do equilíbrio do corpo. 

Um tratamento que cumpra todas essas etapas tem por objetivo não somente o restabelecimento do quadro depressivo, mas principalmente a conquista de uma melhor qualidade de vida. 


A ajuda de amigos e parentes é importante? 

A ajuda de parentes e amigos é fundamental para o paciente com depressão, uma vez que o desânimo e a desesperança, muitas vezes, o impedem de procurar ajuda especializada. Desta forma, a coisa mais importante que alguém pode fazer por uma pessoa deprimida é ajudá-la a se submeter a um diagnóstico e a um tratamento adequado. Outro aspecto muito útil é reafirmar para o paciente que com o tempo e ajuda ele se sentirá bem melhor.

TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO (TDA) OU TDAH EM ADULTOS



TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO (TDA) OU TDAH EM ADULTOS 
Autoria: Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva




O que é TDA ou TDAH? 

Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) ou TDA, trata-se de um transtorno caracterizado pela clássica tríade de sintomas que inclui: falta de concentração, impulsividade e hiperatividade ou excesso de energia. 

Nos Estados Unidos cerca de 17 milhões de pessoas sofrem do problema. No Brasil, apesar das estatísticas precárias, calcula-se que 3 milhões de brasileiros tenham esta patologia, no entanto, a maior parte deles não sabe que a tem. 


Qual a população atingida? 

O TDA ocorre em crianças e adultos, homens e mulheres, rapazes e moças, abrangendo todos os grupos étnicos, camadas socioeconômicas, níveis de escolaridade e graus de inteligência. 

Até pouco tempo atrás, achava-se que este transtorno era exclusivo da infância e que no decorrer da adolescência tenderia a desaparecer espontaneamente. Hoje, no entanto, sabemos que apenas 1/3 da população com o TDA a supera na adolescência e 2/3 conviverão com o transtorno por toda a vida.

A condição básica para o diagnóstico do problema em adultos é a história de TDA na infância (antes dos 7 anos). Por este motivo os relatos do paciente, como também o de seus parentes e amigos são tão importantes. 


Sinais de alerta para o TDA em adulto

 dificuldades em organizar as tarefas diárias;
 tendência a ser desorganizado e a perder objetos;
 irritação com tarefas repetitivas ou monótonas;
 preferência por ambientes agitados;
 numa conversa, começa a falar antes do fim de uma pergunta ou de uma resposta;
 distração e "sonhos acordados" constantes, principalmente quando está lendo ou ouvindo por obrigação;
 períodos de sonolência durante o dia;
 falhas de memória;
 comportamento impulsivo. Falar e agir sem medir consequências;
 alterações rápidas de humor;
 em alguns casos, envolvimento com drogas (álcool, cocaína e maconha).


O que causa o TDA? 

O TDA deriva de um mau funcionamento neurobiológico (da bioquímica do cérebro). O dado mais informativo é que há uma alteração metabólica principalmente nas regiões pré-frontal e pré-motora do cérebro. Como a região frontal é a principal reguladora do comportamento humano, falhas na bioquímica desta região levariam às alterações encontradas no TDA (impulsos e inquietação). Devemos destacar ainda que há forte histórico familiar neste transtorno (carga genética), uma vez que é comum que várias pessoas da mesma família sejam acometidas pelo problema (pais, avós, tios, irmãos). 


Tratamento do TDA 

Podemos dividi-lo em cinco etapas:

1. Diagnóstico: fazer o diagnóstico é o primeiro passo, pois acarreta alívio considerável à medida que o indivíduo se sente amparado: "finalmente tem um nome para toda essa confusão na minha vida";
2. Educação (Informação): quanto mais a pessoa aprende sobre o TDA, mais eficiente se torna a terapia;
3. Estruturação: ferramentas práticas como listas, agenda, lembretes, metas, planejamento do dia etc., podem reduzir bastante o caos interior de alguém com TDA, aumentando a produtividade e senso de controle da pessoa;
4. Psicoterapia: consiste num tipo de encorajamento organizado para que as pessoas com TDA prosperem. É como se o terapeuta fosse um "técnico" de um atleta esportivo (coaching);
5. Medicação: o remédio funciona como um par de óculos para uma pessoa míope. Ajuda a reduzir a sensação de turbilhão interior e a ansiedade. Pode proporcionar um alívio profundo e é bastante seguro quando usado de maneira apropriada. 


Onde procurar o tratamento? 

Como o diagnóstico do TDA se baseia, antes de tudo, na história do indivíduo, é importante que ele procure serviços médicos familiarizados com este transtorno e que exerçam a medicina ao velho estilo (ouvindo o histórico do paciente com atenção e dedicação), pois só assim se fará um diagnóstico correto e um tratamento adequado. 


Critérios diagnósticos sugeridos para o TDA em adultos

Para facilitar a identificação do TDA na população adulta, a Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva sugere uma lista com cinquenta critérios, os quais envolvem não somente os sintomas primários do TDA (desatenção, hiperatividade e impulsividade) como também as situações secundárias que habitualmente advêm das dificuldades crônicas enfrentadas nos diversos setores da vida desse indivíduo.

Nota: Para se caracterizar um funcionamento cerebral TDA é necessário considerar a frequência e a intensidade com que as situações ocorrem e que, pelo menos, trinta e cinco das opções abaixo sejam positivas: 

1º Grupo: Instabilidade da atenção
1. Desvia facilmente sua atenção do que está fazendo, quando recebe um pequeno estímulo. Um assobio do vizinho é suficiente para interromper uma leitura.
2. Tem dificuldade de prestar atenção à fala dos outros. Numa conversa com outra pessoa tende a captar apenas “pedaços” soltos do assunto.
3. Desorganização cotidiana. Tende a perder objetos (chaves, celular, canetas, papéis), atrasar-se ou faltar a compromissos, esquecer o dia de pagamento das contas (luz, gás, telefone, seguro).
4. Frequentemente apresenta “brancos” durante uma conversa. A pessoa está explicando um assunto e, no meio da fala, esquece o que iria dizer.
5.Tendência a interromper a fala do outro. No meio de uma conversa lembra-se de algo e fala sem esperar o outro completar o seu raciocínio.
6. Costuma cometer erros de fala, leitura ou escrita. Esquece uma palavra no meio de uma frase ou tem dificuldade em pronunciar palavras muito longas. 
7. Presença de hiperfoco, ou seja, concentração intensa em um único assunto num determinado período. Um TDA pode ficar horas a fio no computador sem se dar conta do que acontece ao seu redor.
8. Dificuldade de permanecer em atividades obrigatórias de longa duração, como ouvir uma palestra ou assistir a um filme, cujos temas não lhe despertem interesse ou que não o faça entrar em hiperfoco.
9. Interrompe tarefas no meio. Um TDA frequentemente não lê um artigo de revista até o fim, ou ouve um CD inteiro. 

2º Grupo: Hiperatividade física e/ou mental
10. Dificuldade em permanecer sentado por muito tempo. Durante uma palestra ou sessão de cinema costuma mexer-se o tempo todo na tentativa de permanecer em seu lugar.
11. Está sempre mexendo com os pés ou as mãos. São os indivíduos que têm os pés “nervosos”, girando suas cadeiras de trabalho, ou que estão sempre com suas mãos ocupadas, pegando objetos, desenhando em papéis ou ainda ajeitando suas roupas ou seus cabelos.
12. Constante sensação de inquietação ou ansiedade. Um TDA sempre tem a sensação de que tem algo a fazer ou pensar, de que alguma coisa está faltando.
13. Tendência a estar sempre ocupado com alguma problemática em relação a si ou com os outros. São as pessoas que ficam “remoendo” sobre suas falhas cometidas, ou ainda sobre os problemas de amigos ou conhecidos.
14. Costuma fazer várias coisas ao mesmo tempo. É a pessoa que lê e vê TV ou ouve música simultaneamente.
15. Envolve-se em vários projetos ao mesmo tempo. Um exemplo é a pessoa que tem várias ideias simultaneamente e acaba por não levar a cabo nenhuma delas, em função desta dispersão.
16. Às vezes se envolve em situações de alto risco em busca de estímulos fortes, como dirigir em alta velocidade.
17. Frequentemente fala sem parar, monopolizando as conversas em grupo. É a pessoa que fala sem se dar conta de que as outras pessoas estão tentando emitir suas opiniões. Além de disso, não percebe impacto que o conteúdo do seu discurso pode estar causando a outras pessoas. 

3º Grupo: Impulsividade
18. Baixa tolerância à frustração. Quando quer algo não consegue esperar, lança-se impulsivamente numa tarefa. Mas como tudo na vida requer tempo, tende a se frustrar e desanimar facilmente.
19. Costuma responder a alguém antes que este complete a pergunta. Não consegue conter o impulso de responder ao primeiro estímulo criado pelo início de uma pergunta.
20. Costuma provocar situações constrangedoras, por falar o que vem à mente sem filtrar o que vai ser dito. Durante uma discussão, um TDA pode deixar escapar ofensas impulsivas.
21. Impaciência marcante no ato de esperar ou aguardar por algo. Filas, telefonemas, atendimento em lojas ou restaurantes podem ser uma tortura.
22. Impulsividade para comprar, sair de empregos, romper relacionamentos, praticar esportes radicais, comer, jogar etc. É aquela pessoa que rompe um relacionamento várias vezes e volta logo depois, arrependida.
23. Reage irrefletidamente às provocações, críticas ou rejeição. É o tipo de pessoa que explode de raiva ao sentir-se rejeitada.
24. Tendência a não seguir regras ou normas preestabelecidas. Um exemplo seria o trabalhador que teima em não usar equipamentos de segurança, apesar de saber da importância destes.
25. Compulsividade. Na realidade a compulsão ocorre pela repetição constante dos impulsos, os quais, com o tempo, passam a fazer parte da vida dessas pessoas, como as compulsões por compras, jogos, alimentação etc.
26. Sexualidade instável. Tende a apresentar períodos de grande impulsividade sexual, alternados com fases de baixo desejo.
27. Ações contraditórias. Um TDA é capaz de ter uma explosão de raiva por causa de um pequeno detalhe (por mexerem em sua mesa de trabalho, por exemplo) numa hora e, poucos momentos mais tarde, ser capaz de uma grande demonstração de afeto, através de um belo cartão, flores ou um carinho explícito.
28. Hipersensibilidade. O TDA costuma melindrar-se facilmente. Uma simples observação desfavorável sobre a cor de seus sapatos é suficiente para deixá-lo internamente arrasado, sentindo-se inadequado.
29. Hiperreatividade. Esta é uma característica que faz com que o TDA se contagie facilmente com os sentimentos dos outros. Pode ficar profundamente triste ao ver alguém chorar, mesmo sem saber o motivo, ao mesmo tempo que pode ficar muito agitado ou irritado em ambientes barulhentos ou em presença de multidão.
30. Tendência a culpar os outros. Um TDA, muitas vezes, poderá culpar outra pessoa por seus fracassos e erros, como o aluno que culpa o colega de turma por ter errado em uma questão da prova, já que este colega estava cantarolando baixinho naquele momento.
31. Mudanças bruscas e repentinas de humor (instabilidade de humor). O TDA costuma mudar de humor rapidamente, várias vezes no mesmo dia, dependendo dos acontecimentos externos ou ainda de seu estado cerebral, uma vez que o cérebro do TDA pode entrar em exaustão, prejudicando a modulação do seu estado de humor.
32. Tendência a ser muito criativo e intuitivo. O impulso criativo do TDA é talvez a maior de suas virtudes. Pode se manifestar nas mais diversas áreas do conhecimento humano.
33. Tendência ao “desespero”. Quando se vê diante de uma dificuldade, o TDA tende a vê-la como algo impossível de ser transposto e, com isso, sente-se tomado por uma grande sensação de incapacidade. Sua primeira reação é o “desespero”. Só mais tarde consegue raciocinar e constatar o verdadeiro “peso” que o problema tem. 

4º Grupo: Sintomas secundários
34. Tendência a ter um desempenho profissional abaixo do esperado para sua real capacidade.
35. Baixa autoestima. Em geral, o TDA sofre desde muito cedo uma grande carga de repreensões e críticas negativas. Sem compreender a razão disso, com o passar do tempo, ele tende a se ver de maneira depreciativa.
36. Dependência química. Pode ocorrer como consequência do uso abusivo e impulsivo de drogas durante vários anos.
37. Depressões frequentes. Ocorrem, em geral, por uma exaustão cerebral associada às frustrações provenientes de relacionamentos malsucedidos e fracassos profissionais e sociais.
38. Intensa dificuldade em manter relacionamentos afetivos.
39. Demora excessiva para iniciar ou executar algum trabalho. Estes fatos ocorrem pela combinação nada produtiva de desorganização aliada a uma grande insegurança pessoal.
40. Baixa tolerância ao estresse. Toda situação de estresse leva a um desgaste intenso da atividade cerebral. No caso de um cérebro TDA, este desgaste apresentar-se-á de maneira mais marcante.
41. Tendência a apresentar um lado “criança” que aparecerá, por toda a vida, na forma de brincadeiras, humor refinado, caprichos, pensamentos mágicos e intensa capacidade de fantasiar fatos e histórias.
42. Tendência a tropeçar, cair ou derrubar objetos. Isto ocorre em função da dificuldade do TDA de concentrar-se nos atos e de controlar ou coordenar a intensidade de seus movimentos.
43. Tendência a apresentar uma caligrafia de difícil entendimento.
44. Tensão pré-menstrual muito marcada. Ao que tudo indica, em função das alterações hormonais durante este período, que intensificam os sintomas do TDA. A retenção de líquido que ocorre durante os dias que antecedem a menstruação parece ser um dos fatores mais importantes.
45. Dificuldade em orientação espacial. Encontrar o carro no estacionamento do shopping quase sempre é um desafio para um TDA.
46. Avaliação temporal prejudicada. Esperar por um TDA pode ser algo muito desagradável, pois, em geral, sua noção de tempo nunca corresponde ao tempo real.
47. Tendência à inversão dos horários de dormir. Em geral adormece e desperta tardiamente, por isso alguns deles acabam viciando-se em algum tipo de hipnótico.
48. Hipersensibilidade a ruídos, principalmente se repetitivos.
49. Tendência a exercer mais de uma atividade profissional, simultânea ou não. 

E, finalmente, o último critério, que não se enquadra em nenhum dos quatro grupos de sintomas, mas tem sua relevância confirmada pelos estudos que apontam participação genética marcante na gênese do TDA:
50. História familiar positiva para TDA. 


Fonte: Mentes Inquietas: TDAH - desatenção, hiperatividade e impulsividade
Dra. Ana Beatriz Barbosa Silva.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012



Brasília, 13 de Julho de 2012

Carta de Esclarecimento à Sociedade sobre o TDAH, seu diagnóstico e tratamento.
Recentemente, uma série de matérias sobre o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) tem sido veiculada pela mídia jornalística não especializada. Em boa parte dessas matérias, profissionais 
apresentados como especialistas em saúde e educação (embora seus currículos informem não terem 
publicações científicas sobre o assunto) transmitem opiniões pessoais como se fossem informações científicas. 

Pior, suas opiniões não refletem os conhecimentos atuais sobre o transtorno, que é reconhecido pela 
Organização Mundial da Saúde e sobre o qual constam centenas de publicações em bancos de dados 
(http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/) descrevendo claramente  as graves consequências nas esferas 
acadêmica, familiar, social e profissional. Tais opiniões equivocadas são nocivas para pacientes, familiares e 
para a população como um todo.

A afirmação de que o TDAH “não existe”, de que os medicamentos aprovados pela ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o tratamento desse transtorno são “perigosos” e tornam as crianças “obedientes” é, na melhor das hipóteses, expressão pública de ignorância em relação ao tema, investigado cientificamente de modo extenso por pesquisadores de todo o mundo, muitos deles brasileiros. Na pior das hipóteses, configura crime porque veicula informações erradas sobre tema de saúde pública. Incontáveis Associações Médicas ao redor do mundo já se posicionaram não deixando dúvidas sobre a validade do TDAH (vide posicionamento da Associação Médica Americana em Referências no final do texto). 

Tais matérias induzem os leitores à falsa conclusão que há dúvidas não apenas quanto à existência do TDAH, como sobre os benefícios do tratamento medicamentoso. Obviamente, tais textos jamais citam qualquer artigo científico, nenhum dado de pesquisa, demonstrando os tais efeitos “perigosos” ou graves. E, numa prova incontestável da natureza parcial e enganosa, em desrespeito aos princípios básicos do jornalismo, deixam de citar centenas de artigos científicos que documentam fartamente os benefícios, a eficácia e a segurança dos medicamentos usados no tratamento do TDAH.  Recentemente, um grande estudo publicado no mais importante jornal Inglês de Psiquiatria documentou que o metilfenidato é a medicação mais eficaz em Psiquiatria e uma das mais eficazes em toda a Medicina (vide em Referências no final do texto).

Os sintomas que caracterizam o TDAH não são comportamentos infantis comuns, meras variações da 
normalidade, que médicos, pais e professores querem “controlar”. Seria o mesmo que dizer que diabete é um mero aumento de açúcar no sangue, uma simples variação do normal observado na população. Noventa e cinco por cento das crianças e adolescentes não tem a intensidade e gravidade de sintomas que os portadores de TDAH, do mesmo modo que 90% dos adultos não têm níveis elevados de açúcar. Diagnósticos são frequentemente estabelecidos pela intensidade e gravidade. A lista é grande: hipertensão arterial, glaucoma, osteoporose, hipertireoidismo, etc. Todos eles, à semelhança do que ocorre no TDAH, cursam com graves consequências para o indivíduo. Proposições do tipo “quem não esquece alguma coisa de vez em quando?” ou “quem não responde impulsivamente de vez em quando?” são, além de superficiais, irrelevantes: todos os sintomas do TDAH ocorrem em frequência e intensidade não observada em indivíduos normais. O diagnóstico do TDAH é realizado através de entrevista clínica e há extensa literatura científica sobre a fidedignidade deste procedimento. A sugestão de que a ausência de exames complementares tornaria o diagnóstico “frágil” novamente reflete  inacreditável desconhecimento de saúde mental: também não há exames para os diagnósticos de Depressão, Autismo, Transtorno do Pânico, Esquizofrenia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Bipolar, etc. 

A comunidade científica Brasileira, aqui representada por mais de 20 associações e grupos de pesquisa, reitera que o TDAH pode ser diagnosticado de modo fidedigno e seu tratamento, se bem conduzido, tem grandes chances de diminuir os prejuízos que esses indivíduos apresentam ao longo da vida. Embora tratamentos não farmacológicos possam auxiliar bastante no manejo terapêutico do TDAH, todos os artigos científicos disponíveis indicam que o tratamento farmacológico é a primeira escolha para a maioria dos portadores.

Fornecer informações equivocadas e ocultar dados científicos bem documentados é dificultar ou retardar o 
acesso da população ao diagnóstico ou a tratamento, é a expressão de uma das mais perversas formas de 
discriminação social: a Psicofobia.


Referências
1. Diagnosis and Treatment of Attention-Deficit/Hyperactivity Disorder in Children and Adolescents. Larry 
S. Goldman, MD; Myron Genel, MD; Rebecca J. Bezman, MD; Priscilla J. Slanetz, MD, MPH; for the 
Council on Scientific Affairs, American Medical Association - JAMA. 1998;279(14):1100-1107
2. Putting the efficacy and general medicine medication into perspective: review of meta- analysis. Stefan 
Leucht, Sandra Hierl, Werner Kissling, Markus Dold and John M. Davis. British  Journal of Psychiatry, 
2012, 200:97-106

Entidades signatárias

1 - Associação Brasileira de Psiquiatria
2 - Associação Brasileira do Déficit de Atenção
3 – Sociedade Brasileira de Pediatria
4 – Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil
5 – Associação Brasileira de Neurologia, Psiquiatria Infantil e profissões afins6 – Academia Brasileira de Neurologia
7 – Sociedade Brasileira de Neuropsicologia
8 – Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul
9 – Sociedade Interdisciplinar de Neurociência Aplicada à Saúde e Educação
10 – Associação Nacional de Dislexia
11 – Ambulatório dos Estudos de Aprendizagem do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina da 
Universidade de São Paulo (Neurologia e Pediatria)
12 – DISAPRE – Laboratório de Pesquisa em Distúrbios da Aprendizagem e da Atenção – Faculdade de Ciências 
Médicas - Universidade de Campinas
13 – Laboratório de Investigações Neuropsicológicas – Universidade Federal de Minas Gerais
14 – Laboratório de Neuropsicologia do Desenvolvimento – Universidade Federal de Minas Gerais
15 - Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência (UPIA) da Universidade Federal do Estado de São Paulo
(UNIFESP-EPM)
16 – Centro de Referência para Criança com TDAH Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão 
Gesteira – Universidade Federal do Rio de Janeiro
17 – Ambulatório de Neuropsicologia Pediátrica do Serviço de Neurologia do Complexo Hospitalar Professor 
Edgar Santos da Universidade Federal da Bahia
18 – Ambulatório de Distúrbio de Aprendizagem da Santa Casa da Misericórdia de São Paulo
19 – GEDA - Grupo de Estudos e Pesquisa do Déficit de Atenção da Universidade Federal do Rio de Janeiro
20 – NANI – Núcleo de Atendimento Neuropsicólogo Infantil – Universidade Federal do Estado de São Paulo
21 - Comunidade Aprender Criança – Instituto Glia
22 – Núcleo de Investigações da Impulsividade e da Atenção da Universidade Federal de Minas Gerais
23 – Centro de Orientação Escolar - Hospital da Criança Santo Antonio da Santa Casa de Porto Alegre
24 – Laboratório de Clínica Cognitiva do Instituto de Psicologia da Universidade Federal da Bahia25 - Programa de Déficit de Atenção/ Hiperatividade do Hospital de Clinicas de Porto Alegre da Universidade 
Federal do Rio Grande do Sul
26 – Serviço de Psiquiatria Infantil da Santa Casa do Rio de Janeiro
27 - Grupo de Pesquisa em Neurodesenvolvimento, escolaridade e aprendizagem – CNPq
28 - Ambulatório de Déficit de Atenção (AMBDA) da Universidade Federal de Minas Gerais
29 – Instituto ABCD

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O CÉREBRO


Parte da entrevista da revista PODER, ao neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho,
abaixo, quando lhe foi perguntado:

O que fazer para melhorar o cérebro ?
Resposta:

Vc. tem de tratar do espírito. Precisa estar feliz, de bem com a vida, fazer exercício. Se está deprimido, reclamando de tudo, com a autoestima baixa, a primeira coisa que acontece é a memória ir embora; 90% das queixas de falta de memória são por depressão, desencanto, desestímulo. Para o cérebro funcionar melhor, você tem de ter alegria. Acordar de manhã e ter desejo de fazer alguma coisa, ter prazer no que está fazendo e ter a autoestima no ponto.

PODER: Cabeça tem a ver com alma? 

PN: Eu acredito que a alma está na cabeça. Quando um doente está com morte cerebral, você tem a impressão de que ele já está sem alma... Isso não dá para explicar, o coração está batendo, mas ele não está mais vivo. Isto comprova que os sentimentos se originam no cérebro e não no coração.

PODER: O que se pode fazer para se prevenir de doenças neurológicas? 

PN: Todo adulto deve incluir no check-up uma investigação cerebral. Vou dar um exemplo: os aneurismas cerebrais têm uma mortalidade de 50% quando rompem, não importa o tratamento. Dos 50% que não morrem, 30% vão ter uma sequela grave: ficar sem falar ou ter uma paralisia. Só 20% ficam bem. Agora, se você encontra o aneurisma num checkup, antes dele sangrar, tem o risco do tratamento, que é de 2%, 3%. É uma doença muito grave, que pode ser prevenida com um check-up.

PODER: Você acha que a vida moderna atrapalha? 

PN: Não, eu acho a vida moderna uma maravilha. A vida na Idade Média era um horror. As pessoas morriam de doenças que hoje são banais de ser tratadas. O sofrimento era muito maior. As pessoas morriam em casa com dor. Hoje existem remédios fortíssimos, ninguém mais tem dor.

PODER: Existe algum inimigo do bom funcionamento do cérebro? 

PN: Todo exagero.
Na bebida, nas drogas, na comida, no mau humor, nas reclamações da vida, nos sonhos, na arrogância,etc.
O cérebro tem de ser bem tratado como o corpo. Uma coisa depende da outra.
É muito difícil um cérebro muito bom num corpo muito maltratado, e vice-versa.

PODER: Qual a evolução que você imagina para a neurocirurgia?

PN: Até agora a gente trata das deformidades que a doença causa, mas acho que vamos entrar numa fase de reparação do funcionamento cerebral, cirurgia genética, que serão cirurgias com introdução de cateter, colocação de partículas de nanotecnologia, em que você vai entrar na célula, com partículas que carregam dentro delas um remédio que vai matar aquela célula doente que te faz infeliz. Daqui a 50 anos ninguém mais vai precisar abrir a cabeça.

PODER: Você acha que nós somos a última geração que vai envelhecer? 

PN: Acho que vamos morrer igual, mas vamos envelhecer menos. As pessoas irão bem até morrer. É isso que a gente espera. Ninguém quer a decadência da velhice. Se você puder ir bem mentalmente ,com saúde, e bom aspecto, até o dia da morte, será uma maravilha.

PODER: Hoje a gente lida com o tempo de uma forma completamente diferente. Você acha que isso muda o funcionamento cerebral das pessoas? 

PN: O cérebro vai se adaptando aos estímulos que recebe, e às necessidades. Você vê pais reclamando que os filhos não saem da internet, mas eles têm de fazer isso porque o cérebro hoje vai funcionar nessa rapidez. Ele tem de entrar nesse clique, porque senão vai ficar para trás. Isso faz parte do mundo em que a gente vive e o cérebro vai correndo atrás, se adaptando.

Você acredita em Deus? 

PN: Geralmente depois de dez horas de cirurgia, aquele estresse, aquela adrenalina toda, quando acabamos de operar, vai até a família e diz:

"Ele está salvo".

Aí, a família olha pra você e diz: 

"Graças a Deus!".

Então, a gente acredita que não fomos apenas nós, que existe algo mais independente de religião.
 

sábado, 21 de janeiro de 2012

Matéria sobre Dislexia no Programa MaisVocê da Rede Globo.



Programa Mais Você do dia 06 de outubro, debateu o assunto, ressaltando a importância de um professor atento para reconhecer essas crianças.
O encaminhamento ao atendimento especializado e orientação aos professores são fundamentais para que essas crianças alcancem o seu potencial.
Assista aqui o vídeo:
http://maisvoce.globo.com/MaisVoce/0,,MUL1675190-10344,00.html

“Você tem que aprender a trabalhar com as suas dificuldades, para fazer delas o mínimo.”



Entrevista Fábio Batista dos Santos
Aos 24 anos, o baiano de Cruz das Almas, Fábio Batista dos Santos, vive em Salvador e está terminando a faculdade de Direito.  Ele descobriu que era disléxico há três anos, quando foi para o Reino Unido estudar Comunicação. Atualmente, mantém o blog Nuven Digital – “É ‘nuven’ com ‘n’ mesmo”, ele diz, explicando seu erro na hora de registrar o domínio. Nesta entrevista, Fábio conta como foi para o Reino Unido, compara como a dislexia é tratada nesse país e no Brasil, e fala de sua vontade de criar um espaço para que os disléxicos compartilhem experiências.
Instituto ABCD: Como foi sua trajetória escolar?
Fábio Batista dos Santos: Eu lembro que desde que entrei na educação infantil e comecei a aprender as letras, achava muito difícil. Aos 6 anos, começaram as cobranças, as provas… Eu ficava muito estressado, aí, tive que traçar uma estratégia… Eu ficava na escola até o meio-dia, almoçava e ia para uma mesinha que a gente tinha em casa, para fazer as atividades da escola. Ficava lá até umas 3 horas. Pra mim, era tudo difícil: direita, esquerda, sucessor, antecessor… Aquilo era coisa que eu tinha que me trancar e ficar estudando, repetindo, repetindo, repetindo, até conseguir gravar. Eu também fazia isso com os textos. Passava o final de semana todo, decorando porque eu não conseguia ler em voz alta. Então, era o melhor leitor da classe, tirava as melhores notas, mas sempre colocando duas, três, ou quatro vezes mais trabalho do que os meus colegas. Ao mesmo tempo, por sugestão das outras pessoas, eu achava que era incompetente, preguiçoso. Mas, no fundo, não entendia por que eu aprendia fácil matemática, física, química, e ortografia e gramática não entravam na minha cabeça.
Instituto ABCD: Depois você foi estudar Direito e de repente resolveu fazer um mestrado em Comunicação no Reino Unido. Como foi essa estória?
FBS: Lá no interior da Bahia, em Cruz das Almas, onde nasci, comecei a aprender inglês na escola pública, quando tinha uns 6 anos. Quando fiz 14, ganhei de presente um curso de inglês, que acabei concluindo por meio de bolsa. Aos 18 anos, vim para Salvador, porque consegui outra bolsa do ProUni [Programa Universidade para Todos, do Governo Federal] para cursar Direito. Como tinha afinidade com a língua inglesa, consegui meu primeiro emprego em uma pousada. Lá, conheci pessoas de diversos países e fui mantendo os contatos. Aos 21 anos, durante o Carnaval, estava meio cansado dos assuntos jurídicos e resolvi fazer uma revista sobre sustentabilidade, literatura… Tinha umas 36 páginas. Eu mesmo fiz, diagramei e colei as páginas, bem artesanal. A revista teve seis edições, que eu distribuía em Salvador, e também mandava para umas 30 pessoas fora do país. Mandei para Portugal, China, Estados Unidos, França, Noruega, Reino Unido, Itália…
Instituto ABCD: Como foi a recepção da revista?
FBS: A resposta que eu tive da maioria dos brasileiros era que estava cheia de erros de português. Mas os estrangeiros olharam mais o lado criativo do trabalho e elogiaram o fato de eu ter resolvido a diagramação tudo com software livre. Como eles não entendiam o português, não precisava explicar os erros (risos). Na universidade, eu estava para perder minha bolsa porque minhas notas estavam caindo e provavelmente eu ia ter que voltar para o interior. Então, essas pessoas sabiam da minha dificuldade e uma delas resolveu me oferecer uma bolsa para eu ir estudar Comunicação no Reino Unido.
Instituto ABCD: Como você descobriu que era disléxico?
FBS: Foi justo no Reino Unido… Antes de começar o mestrado, os estudantes estrangeiros no Reino Unido tinham que fazer um curso para se familiarizar com a cultura europeia e com os parâmetros das avaliações que teríamos pela frente. Uma das avaliações que a gente tinha era de compreensão. A gente escutava as matérias da BBC e respondia perguntas escritas. Um dos programas falava sobre dificuldades de aprendizagem e dislexia. Quando chegou ao final da aula, eu falei para o professor que eu tinha me identificado com a dificuldade de leitura e produção de textos e que achava que tinha esse problema. Ele disse que ia conversar com a coordenadora para saber se eu podia fazer um teste. A coordenadora concordou, mas disse que eu tinha que pagar. Consegui o dinheiro, fiz o teste e deu que eu era disléxico. Não sei se a aula foi colocada propositalmente no programa ou se foi sorte, mas devido a essa aula descobri, aos 21 anos, que eu tinha dislexia.
Instituto ABCD: Isso mudou alguma coisa na sua vida?
FBS: Mudou muito porque você tira um peso das costas de achar que não é capaz.  Você começa a perceber que o problema não está em você, mas no sistema de ensino, que não tem espaço para a diferença. Nosso sistema educacional foi feito para educar em turmas. As crianças são colocadas juntas e espera-se que todas sejam iguais e tenham resultados parecidos. Mas o disléxico quebra isso porque o modo como ele aprende e se comunica é diferente. Então o sistema não consegue receber esse aluno, que não se enquadra.
Instituto ABCD: Você notou diferença entre a escola/faculdade brasileira e a escola/faculdade inglesa?
FBS: Sim. Lá existe uma relação muito forte entre pesquisa e política pública. O governo escuta muito o que a pesquisa descobre. Se os estudos mostram que 10% da população têm algum tipo de deficiência – lá a dislexia é considerada uma deficiência –, eles se adaptam e as pessoas têm direito a alguns benefícios.
Instituto ABCD: Você pode dar exemplos?
FBS: Eles têm direito a ter acesso a técnicas e profissionais para ajudá-los, sejam leitores, aulas extras, tempo maior para realizar as provas, uso de computador, programa de leitura… Eu chegava à biblioteca, pegava o livro, digitalizava e o computador lia para mim, em uma salinha individual, sem barulho. Então, a leitura deixou de ser uma coisa dolorosa para mim. Passou a ser trabalhosa, mas não dolorosa [risos]. Enfim, o governo faz um grande trabalho pra evitar que os disléxicos sejam marginalizados.
Instituto ABCD: Mesmo com a sua dificuldade de escrita, você foi estudar Comunicação e hoje tem um blog. Por quê?
FBS: Eu não aprendi música, dança, não tive acesso a outros tipos de educação na escola. Só fui educado para ser hábil em leitura e escrita. Se eu tivesse tido acesso a outros tipos de expressão na infância, talvez seguisse outro caminho mais fácil. Em Londres, por exemplo, fiz um curso de cinema, e hoje tento usar a linguagem audiovisual. Mas a questão é que o disléxico transforma a sua dificuldade em sua maior obsessão. Porque você recebe tanto não, que você começa a se perguntar o que isso tem de tão especial? Eu não consigo escrever como eu gostaria, mas eu gosto do que a escrita pode fazer: levar ideias de um lado para o outro. No meu blog, escrevo e peço para alguém corrigir a ortografia e gramática ou então tenho o insight e peço para os meus colaboradores escreverem.
Instituto ABCD: Normalmente o disléxico tem dificuldade de leitura e escrita em qualquer língua. Como foi pra você ir estudar em inglês?
FBS: Pra mim o inglês foi mais fácil porque as regras não são tão fixas. Quando você erra em português, perde a redação, o vestibular, tira nota baixa… No Reino Unido, o grande problema é se você errou o raciocínio. Se você errou uma palavra, mas disse o que queria dizer, é perfeitamente aceitável. É uma cultura mais aberta para a variedade.
Instituto ABCD: Como foi voltar para o Brasil?
FBS: Fiquei 2,5 anos no Reino Unido e, quando percebi que ia ter que voltar, quase tive uma crise de pânico porque eu comecei a perceber que aqui eu não ia ter espaço, as pessoas não iam entender meus erros… Então, a primeira coisa que eu fiz foi fazer um curso de preparação para disléxicos lá no Reino Unido. Foram 10 semanas, com um profissional, a quem eu ia expondo os meus problemas. A tutora falava que parecia que eu estava tendo uma crise de pânico quando eu falava o que eu tinha que fazer no Brasil. Falava pra eu relaxar! Mas quando cheguei aqui, aconteceu o que eu estava prevendo. É a falta de compreensão, a ideia de que todo o mundo tem que ser igual e, de que, se você é diferente, de alguma forma falhou… E não é só escola, às vezes é até entre os amigos.
Instituto ABCD: Você sentiu dificuldade para entrar no mercado de trabalho no Brasil especificamente por causa da dislexia?
FBS: Sempre! Estou no Brasil há dez meses e tento, mas o currículo é um bicho de sete cabeças. Mesmo com a minha experiência de ter feito cinema, comunicação, ter trabalhado na rua gravando, ter feito dois curtas que estão na internet, eu não consigo escrever tudo isso em uma folhinha A4. A dislexia também afeta a comunicação e você nem sempre consegue falar o que queria; as pessoas não entendem. Na hora do estresse, eu gaguejo e troco palavras…
Instituto ABCD: No Reino Unido esse cenário seria diferente?
FBSSim, lá, mesmo ainda sendo um estudante, trabalhei na área de comunicação. Editei vídeos e ensinei português [risos]. A inserção é mais fácil porque existe uma legislação específica em relação à dislexia, e o cumprimento dela é bem mais eficiente. As empresas pedem assessoria de alguém para contratar deficientes e para estudar como eles podem dar o seu melhor. Porque da mesma forma que os disléxicos têm problemas, esses problemas geram outras habilidades. O disléxico, por exemplo, tem uma persistência muito grande, sabe trabalhar em grupo e consegue ver soluções que as outras pessoas não veem. As empresas precisam de alguém que pense diferente porque, combinado com outras pessoas, isso é perfeito.
Instituto ABCD: Você voltou recentemente a estudar Direito e poderia advogar em favor dessa causa…
FBS: Eu até tenho vontade, mas como não existe uma legislação específica sobre a dislexia, tenho dificuldade de chegar ao final do curso de Direito. O que as pessoas com dislexia podem fazer é se organizar, começar a entender mais o problema e explicar como funciona a sua própria dislexia. Tem coisas básicas que poderiam ser mudadas, como a inclusão do leitor no concurso público. Se o disléxico escuta a pergunta ao invés de ler, ele gasta muito menos energia mental para se concentrar na resposta. E outras questões também, como criar grupos e encontros para adultos disléxicos… Porque você tem que trabalhar as crianças no sentido da prevenção para entrar no mundo adulto. Mas existem muitos adultos que já chegaram lá, como eu, e não sabem como lidar com a dificuldade com a escrita e outros problemas. Então é preciso escrever livros, traduzir o que já existe, compartilhar.  E aí é um recado para as editoras no Brasil: vamos fazer mais audiolivros, porque tem gente que quer escutar! E aqui tem todo um mercado porque, se no Brasil somos 200 milhões, há um mercado de milhões de pessoas para muita gente criar produtos e serviços que resolvam o problema de muitos disléxicos.
Instituto ABCD: O que a dislexia te trouxe de bom?
FBS: Quando eu era criança, eu desenhava muito bem, pintava, fazia artesanato em barro… Sempre tive uma criatividade muito elevada, o que me ajudou a ver saídas para os meus problemas econômicos e sociais, porque eu não via só a minha realidade, eu usava a imaginação para ver onde eu podia chegar. Então, a dislexia me deu um pensamento lateral muito forte, e vivo vendo soluções para problemas para os quais eu não sou pago. Também aprendi a facilmente me relacionar com o outro. Mas cada disléxico tem um pacotezinho com dificuldades e habilidades. Então, você tem que aprender a trabalhar com as suas dificuldades, para fazer delas o mínimo; e com suas as habilidades, para fazer delas o máximo. E nisso os professores têm que pensar: na mensagem que estão passando para a criança. Claro que eles não podem acabar com as provas, mas podem mandar a mensagem de que a criança vai conseguir, de que ela é capaz. Isso já faria uma diferença absurda.